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20 de maio de 2008

Terapia Individual ou Familiar?

Nós que estamos inseridos na psicologia clínica e no atendimento individual do sujeito, estamos acostumados a ouvir, nos discursos de nossos clientes, queixas referentes a família desta pessoa.
E como todo gestalt-terapeuta, não pude deixar de observar em seu processo de crescimento uma mudança não só do cliente, mas também em todo o seu sistema familiar.
Neste sentido gostaria de comparar duas formas de atendimento em Psicologia clínica: a individual e a familiar, para que possamos refletir se um atendimento individual, também não seria um atendimento familiar sistêmica, visto que o ser humano está sempre contextualizado e não pode ser entendido de forma isolada, pois se assim fosse não seria humano, seria, segundo Aristóteles: “Um deus ou uma fera”

Terapia individual

A relação Terapêutica ou Terapia Individual, segundo Jorge Ponciano, é uma relação a dois que precisa ser qualificada, pois é necessário que exista um relacionamento entre o terapeuta e seu cliente com contato de visão, toque e sentimento, sem os quais não há terapia (Ribeiro, 1994, p.27). Este encontro tem por objetivo a cura do sofrimento emocional da pessoa que procura os serviços de um terapeuta.
Martin Buber, cuja obra foi uma das inspiradoras da linha teórica da Gestalt-Terapia, chama isto de RELAÇÂO DIALÓGICA. O discurso da pessoa passa por dois parâmetros: A relação EU-TU e a relação EU-ISSO.
No primeiro parâmetro “é um encontro genuíno entre dois seres únicos no qual ambos abertamente respeitam a humanidade essencial do outro, aquilo que faz com que alguém seja único e irrepetitível” (Buber, 1977, p.27).
Nesta relação cliente-terapeuta, as duas partes se afetam perfazendo um todo que, ao final deste encontro, ambos não serão os mesmos indivíduos e ambos sairão mais ricos da experiência de um e de outro.
É neste relacionamento autêntico e somente nele que a psicoterapia se dá e promove mudanças. Não adianta achar que o terapeuta é um ser isento ou que “quem traz o problema é quem precisa mudar”, pois terapia é como sair de barco para pescar, mesmo que não se traga peixe, sempre se sai salgado.
Por isso há atendimentos que a princípio parece não dar certo. O cliente vai embora, mas este, não é o mesmo que entrou. Levou parte da essência do terapeuta e quando for possível para esta pessoa, esta essência ressurgirá em sua mente.
Enquanto a relação Eu-Tu, o homem se integra completamente com o outro, numa totalidade caracterizada pelo envolvimento, pela integração dos opostos, a relação EU-ISSO é marcada pela separação. O “Tu” também pode significar o “Isso”, pois o “Tu” não está integrado ao “Eu”, não existe contato. Este “Tu” faz apenas fundo a existência do “Eu”. Porque o “Tu” não
necessariamente é uma pessoa, podendo também se referir a animais, elementos da natureza, obras de arte ou divindades. (Boris, 1987).
Assim, a psicoterapia individual é marcada pela relação a dois (Eu-TU) e pelo tema do cliente (Eu – ISSO), ou seja, é o que afeta a pessoa que a faz procurar o terapeuta individual.

Terapia Familiar

Quando o cliente tem o conhecimento ou é orientado na resolução do que o afeta está no âmbito familiar, melhor dizendo, é um problema de sua família ou em sua relação conjugal, então é a terapia familiar ou sistêmica, uma abordagem da Psicologia Clínica, que o cliente vai procurar. Esta nada mais é do que o trato, não do indivíduo isolado, mas de toda a família ou pessoas que fazem parte de sua família, que serão ouvidas em sessões periódicas, geralmente uma vez ao mês, estipuladas em contrato.
A terapia familiar está baseada na idéia de que os comportamentos de uma pessoa devem ser compreendidos no contexto da família.
Existem muitas definiçoes do que seja “Família”. Uma delas poderia ser: “o conjunto de pessoas que se relacionam por laços de parentesco e/ou afetivos.”
Na escuta do terapeuta familiar se admite, muito mais que na do individual, a influência de sua formação teórica e prática além de sua própria história de vida. Isto implica que na formação como especialista no atendimento de casal e família, haja vivência na terapia individual e supervisão. Afinal o terapeuta traz dentro de si a essência de sua própria família.
Além disto, a terapia propõe que o cliente (família) seja o especialista no que diz respeito ao conteúdo, isto quer dizer que ele sabe sobre sua própria vida e os motivos que o trouxeram para a terapia. Quanto ao terapeuta, ele é o especialista no processo, permitindo por sua especialidade criar um contexto propiciador e facilitador para uma conversação que permita a reconstrução dos significados da história de vida do cliente.
Na observação do processo na terapia familiar existem conceitos importantes que precisam ser levados em conta. relaciono aqui alguns conceitos para melhor ilustração deste trabalho.

MITO – É tudo aquilo que, passado de geração a geração, torna-se uma lei familiar seguida de forma inconsciente. Ex. Todas as mulheres da época da vovó casavam virgens – Mito da virgindade.
REGRA – É tudo aquilo que “tem que ser” dentro das relações familiares, pois do contrário ocorrerá uma alteração considerável no sistema familiar. Ex.: A mulher deve assumir os afazeres da casa, deve ser discreta e centrada.
TRIANGULAÇÃO – É o desvio do conflito entre duas pessoas, envolvendo uma terceira pessoa e estabilizando o relacionamento entre o par original. Ex.: Doenças ou questões escolares dos filhos podem muitas vezes esconder conflitos conjugais, que se mostrarão mais claramente quando estes filhos crescerem e saírem de casa ou quando resolverem estas questões.
LEALDADES INVISÍVEIS – Este termo foi cunhado por Boszormeiyi-Nagy para indicar compromissos inconscientes que os filhos assumem para ajudar suas famílias. Trata-se de uma continuidade de um comportamento existente em sua família de origem com o novo par que esta pessoa vai se relacionar ou então, a denúncia por um dos membros de comportamento disfuncional. Ex. se o filho for tímido e distante ao se relacionar com seus pais, procurará o par com estas mesmas características ou uma criança agressiva que denuncie a agressividade de toda a família.
SEGREDO FAMILIAR – Quando se quer esconder ou preservar atos ou fatos vergonhosos familiares, temos o Segredo Familiar e estes são mantidos por lealdade as regras de família. Às vezes alguns membros tentam romper esta lealdade, mas são recebidos ou vistos com mistificação e negação. Assim o segredo é “engolido” e a pessoa passa a “não saber”, e o segredo passa ser “escondido” da própria pessoa que tem conhecimento. (Imber-Black, 1994, p.32).

Esta abordagem da psicologia observa muitos outros tópicos não mencionados aos quais um especialista deve ficar atento para dar seguimento ao seu trabalho. Este deve ter em mente que uma pessoa não traz um distúrbio sem um contexto familiar, ou seja, esta pessoa é o “porta
voz”de um sistema familiar disfuncional.

Terapia individual ou Familiar? Freud mensiona a necessidade que o indivíduo tem de relacionar-se de “fenômenos sociais” (Freud, 1921). Assim, basta esta pessoa discorrer sobre sua queixa principal e logo será mencionado algo sobre sua história e relações que o constituíram como pessoa.
É importante também mencionar que, por estar sempre em relação e por ter nascido em um berço constituído por pessoas, o ser humano se alimentará e se educará segundo a cultura daquela sociedade.
Assim, a criança que dispõe de seu leite materno, também se nutre dos valores maternos. Não é à toa que um obstetra recomenda que as mães tomem cuidado com alguns tipos de alimentos e bebidas alcoólicas, pois assim procedendo não passarão uma alimentação “contaminada” para seu bebê através do leite materno. Poderíamos então conjecturar que uma mãe neurótica, com uma
vivência “contaminada”, também poderia passar algo que viesse prejudicar a nutrição de valores que a criança vai formar.
Frederik S. Perls, um dos fundadores da Gestalt-Terapia, diz que a maturação é um processo de crescimento contínuo, onde o apoio emocional que o ambiente ou as pessoas de sua relação dá, com o tempo, torna-se um auto-apoio. Perls pode explicar melhor:
“A criança aprende muitas vezes copiando o adulto, a obter Apoio ambiental, fazendo-se de desamparada ou estúpida, brigando, elogiando, tentando seduzir e assim por diante. Portanto qualquer terapeuta ou membro do grupo que dá apoio ou ajuda em demasia, é envolvido pelas manipulações do paciente e só estragará ainda mais esta pessoa. (Perls, 1977., p.33-34)”
Deste modo o cliente que vem ao nosso consultório procura algo de si mesmo, algo que não tem consciência e que certamente é contextualizado em suas relações sociais aprendidas no seio de sua família.
Tão séria é esta procura que José Bleger(Bleger, 1984) denomina o grupo familiar como grupo primário, grupo formador de pessoas, que funciona como depositário da parte menos diferenciada ou menos discriminada da personalidade do indivíduo. Bleger entende que as relações familiares se caracterizam pela simbiose ou confluência, permitindo assim que o indivíduo possa atuar na parte mais discriminada e evoluída de sua personalidade no trato com o extragrupo familiar.
Por isto quando o cliente fala de uma outra pessoa com grau de parentesco, na verdade está falando de um conteúdo indiferenciado de si mesmo.
É neste sentido que o indivíduo tem em seu interior todos os valores familiares introjetados no seu modo de se relacionar com o mundo que o cerca. Este ponto de vista é compartilhado com a autora Umberta Telfener. Para ela: “a família inteira, a cultura, o contexto de referência “existem” no interior e devem ser levados em consideração na medida em que lhe oferecem a possibilidade de utilizar sistemas de referência categorial e formas de pensamento diferentes.” (Telfener, 1991.)
Por isso não se pode entender o indivíduo sem contextualizá-lo, até por que o próprio indivíduo fará questão de se contextualizar, e fazendo parte de um sistema em que suas relações são circulares, ou seja, se um membro está doente, não consegue dormir, sofre de ciúmes, não vai bem na escola, etc. todo o sistema familiar sofrerá com ele, obrigando o terapeuta a fazer
intervenções diretas sobre o cliente e indiretas sobre a família, pois, segundo Cecchin,
“Não se pode deixar de fazer “terapia familiar”, já que a presença de um único indivíduo na terapia tem, seja como for, um grande efeito sobre todo o sistema” (Cecchin apud Telfener, 1991)
Depois de tudo o que foi exposto acima podemos refletir até que ponto não estamos influindo em todo o sistema familiar da pessoa que nos procura para atendimento individual. Por isto mesmo, quantas vezes não tive notícias de uma desestrutura familiar depois que um dos parceiros conjugais tomou consiência de seu “mal” funcionamemto dentro daquela relação.
Por isto proponho um repensar no grau de responsabilidade que temos nos atendimentos individuais, pois fazendo assim corremos menos o risco de “Mirar no que vemos e acertar no que não vemos”, trazendo assim a infelicidade indireta daqueles que não estão a nossa frente.
Sergio T. Monte é Gestalt-terapeuta, especializando em Terapia Sistêmica pela IPHEM.

As informações contidas no texto são de responsabilidade do autor.

Referências
BLEGER, José; Psico – Higiene e Psicologia Institucional; Porto Alegre; Art Med; 1984.
BORIS, Georges Daniel Janja Bloc; Uma reflexão acerca da consistência teórica das psicoterapias humanistas. Disponível em:
; acesso em 12 de março.
BUBER, M. Eu e Tu. São Paulo: Cortez e Moraes, 1977.
CARBONE, Adriana; Revista Carthasis - Artigos Hoje Terapia familiar Sistêmica – Breve Hitórico Origem e desenvolvimento da
Teoria Familiar; Disponível em:; acesso em 12
mar 2007.
ELKAIN, M. (org.); Panorama das terapias familiares; São Paulo; Summus; 1998; V. 2.
FREUD,S.(1921); Psicologia de grupo e análise do ego; São Paulo; Imago; 1972.
IMBER-BLACK,E (ORG);Os Segredos na família e na terapia familiar; Porto Alegre; Art. Méd.; 1994; p.35.
NICHOLS, M. P.; Terapia familiar: Conceitos e métodos; Porto Alegre; ART.MÉD.; 1998.
PERLS,F.S(1977)”Terapia de grupo versus terapia individual”, in Stevens, J.; Isto é Gestalt; São Paulo, Summus.
RIBEIRO, Jorge Ponciano; Gestalt-Terapia - O Processo grupal: Uma abordagem fenomenológica da teoria do campo e holística;
São Paulo, Summus; 1994; p.27.
TELFENER,Umberta; A terapia individual sistêmica In: Togliatti & Telfener, U. Dall’individuo al sistema:manuale de
psicopatologfia relazionale; Torino; Bollati Borighieri; 1991
TONDO, C.T; Terapia familiar: bases, caminhos percorridos e perspectivas. In SOUZA, Y.S.; NUNES, M.L.T. (org.). Família,
organizações e aprendizagem; Porto Alegre; PUCRS; 1998; p. 37-104.

19 de maio de 2008

Transtornos do Humor e de Ansiedade


O tema escolhido para a palestra realizada no mês de Maio "Transtornos do Humor e de Ansiedade" é extremamente amplo, portanto estaremos apresentando os tópicos abordados de forma bastante sucinta, com o objetivo de iniciarmos os estudos e reflexões acerca do assunto.


Quando falamos em Transtornos do Humor podemos conceituar de maneira simplista como manifestações afetivas inadequadas, que variam de intensidade, frequência e duração. Uma das diferenças mais importantes entre os transtornos do humor é a distinção entre as categorias unipolar e bipolar.

Unipolar: Caracterizam-se por sintomas depressivos com ausência de história de humor elevado de forma patológica. São eles:
  • Transtorno Depressivo Maior
  • Depressão Mascarada
  • Depressão Crônica
  • Transtorno Distímico
  • Transtorno Depressivo Menor
  • Depressão Dupla
  • Depressão Subsindrômica
  • Depressão Psicótica
  • Depressão Involutiva
  • Depressão Pós-Parto
  • Depressão Breve Recorrente

Principais sintomas da depressão: sentimentos de tristeza, incapacidade de sentir prazer, angústia e desesperança; baixo auto-estima; idéias de culpa, ruína e desvalia; visões pessimistas do futuro; pensamentos recorrentes sobre a morte.

Subtipos Bipolares: Neste caso a depressão alterna ou se mistura a sintomas de mania ou hipomania. São eles:

  • Hipomania Breve
  • Depressão Bipolar
  • Transtorno Ciclotímico
  • Estados Bipolares Mistos
  • Ciclagem Rápida
  • Transtorno Bipolar Mascarado
  • Transtorno Afetivo Sazonal
  • Psicoses Ciclóides

Principais sintomas da MANIA : afeto expansivo, eufórico e irritável; aceleração do pensamento com fuga de idéias; auto-estima inflada; necessidade de sono diminuída.


Transtornos de Ansiedade

A ansiedade é uma característica biológica do Ser Humano, que antecede a momentos de medo, perigo ou tensão, causando uma série de sensações corporais desagradáveis, porém muito úteis a nossa sobrevivência. O que torna a ansiedade patológica e consequentemente um transtorno é quando tais sensações impedem o indivíduo de conduzir sua vida e a enfrentar seus temores, comprometendo sua qualidade de vida.

Dentre os Transtornos de Ansiedade estão:

  • Transtorno do Pânico
  • Transtorno de Ansiedade Generalizada
  • Fobias
  • Transtorno Obsessivo-Compulsivo
  • Transtorno de Estresse Pós-Traumático

No que se refere ao tratamento dos Transtornos de Humor e Ansiedade são indicados:

  • Psicofármacos
  • Psicoterapia: individual, familiar e casal
  • Terapia ocupacional
Após este breve estudo, o que podemos considerar é a dificuldade do diagnóstico, na medida em que uma observação cuidadosa dos sintomas é de extrema importância, já que em muitos casos as variações são mínimas. Por este motivo muito ainda a ser estudado.


Adriana Bonneterre e Sandra Santos







Profissionais

Adriana Bonneterre - CRP 05/31697
Graduada em Psicologia - Universidade Estácio de Sá
Especialista em Psicologia Hospitalar pela Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro

Sandra Santos - CRP05/31553
Graduada em Psicologia - Universidade Estácio de Sá
Especialista em Psicologia Hospitalar pela Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro


Serviços oferecidos:

Atendimento clínico - individual e grupo
Atendimento domiciliar

Atendimento Pré e Pós cirúrgico
Consultoria para hospitais e clínicas

Orientação Profissional
Cursos, palestras
Grupos de estudo

Contatos:
Adriana Bonneterre - (11) 9586-0810

Sandra Santos - (21)7849 0540
Id 81*59910
psiclinicaehospitalar@hotmail.com